
Era uma vez uma aldeia muito pobre, situada entre um próspero reino e uma grande fábrica de cimento cujo nome era Allgarve.
Todos viviam razoavelmente infelizes, governados por um idiota a quem chamavam nomes sempre que podiam.
Para mitigar as tristezas, os habitantes da aldeia costumavam encontrar-se junto do sino e de lá partiam à aventura, blogosfera fora, contando uns aos outros histórias disto e daquilo, muitas mais disto.
Um belo dia, estava um anarca a anarquizar uma mensagem quando, pela janela, sorrateira, pata ante pata, uma melga enorme de pernas esguias e corpo escuro, bronzeado do sol, lhe poisou na bochecha esquerda.
O anarca sentiu uma picadinha…logo seguida de outra, e parou de anarquizar.
Já só avistou a melga de relance. Esta, como havia chegado, assim se esfumara, confundindo-se com o tom amarelecido das paredes do quarto do anarca. Ria baixinho, marota, esperando muito agachada que a baba crescesse na bochecha da vítima que escolhera nessa noite.
O tempo correu, a melga não se mexeu e o anarca começou a sentir um calorzinho gostoso a percorrer-lhe o corpo. Em vez de comichão, a baba produzia-lhe uma agradável sensação que nunca antes experimentara. E era mesmo bonita, transparente e cintilante ao mesmo tempo, como uma bolinha de sabão.
E a partir dessa noite, a melga passou a visitar o anarca e a picá-lo, a picá-lo, e a ouvir a sua voz forte tornar-se meiga sussurrando-lhe:
- Ai…pica…pica…minha melguinha…pica mais!...ai…ui…
Assim seguiram durante o verão, até que um dia, cansados daquelas picadelas no silêncio do quarto e às escondidas, resolveram passar a encontrar-se junto do sino da aldeia.
Os dois, agarrando-se às cordas do sino, faziam o badalo bater e o sino tocar, tocar… e o sineiro dizer:
- Hum! Aqui há namorico pegado…um destes dias vou tocar a casório…
Estava certo o velho sineiro da aldeia. Na primavera seguinte, com o rebentar das primeiras flores, a melga delgada e o anarca, homem cujo único vício era muito fumar, acabaram por casar.
E foram muito felizes junto das suas 12 bolinhas de sabão, umas mais delgadinhas e transparentes e outras mais escuras e amarelecidas, parecidas com bolas de fumo.
FIM