2006-12-18

MEDITAÇÕES DE UMA GATA

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Enrolada no quentinho dos raios de sol que a cobriam vindos da janela da sala grande, a gata meditava, entre um e outro bocejo que lhe colocavam dois riscos no lugar dos olhos e faziam surgir uns dentes destartarizados e perfeitos para roer a comida seca que a dona, diariamente, lhe deixava lá ao fundo, no fim da casa, pertinho de uma coisa muito alta a que sempre ouvia chamar "armário".

Que bem se sentia ! Ninguém por perto a todo o momento passando-lhe uma mão no pêlo ou, pior ainda, a beijocar, a beijocar... obrigando-a a repetidas lambidelas diárias para se manter asseada, como gostava!

Claro que lhe sabia pela vida, à noite, que a doninha a aconchegasse no colo, onde era penteada a preceito para não ter de engolir aqueles horríveis nós de pêlo que, às tantas, lhe causavam indisposições do estômago e a levavam mesmo a vomitar. Sim, uma vez ao dia, duas no máximo, era bem agradável sentir as mãos e o cheiro dos amigos humanos. Mais, é que não! Por isso, gostave de estar sozinha em casa, à vontade, dormitando ora aqui, ora ali, que detestava a rotina!

Estava, então, a gata nestas meditações, quando a porta da rua se abre e uma voz familiar dizendo " Olá, minha menina!..." a fez saltar do sofá e esquecer o sol.

Enrolou-se nas pernas da dona, a quem saudou com um ternurento "rrrnnhau..." e pensou que o calor do seu colo, afinal, era bem melhor que o dos raios do sol !

- Jorge G

7 Comments:

Blogger Kaotica said...

Um conto muito conhecedor da psicologia dos felinos. Tenho 3 e por isso sei bem da necessidade doseada de afectos capaz de agradar a esses bichos (tão burgueses! Tão artistas!), a qual só lhes agrada na justa medida das suas conveniências.
E com a vantagem de o poder ler às crianças, agora de férias, que adoram histórias de gataria.
Abraços!

12:48 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Jorge
Escrita escorreita ( que se precisa!!!) com uma boa dose de doçura fofa... Que mais querias?
Abraços.

1:24 da tarde  
Blogger Outsider said...

Que belo e preciso conto. Eu tenho uma gatinha deficiente, que se pode rever perfeitamente neste conto.
Um Abraço.

3:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica,

Então, podes bem compreender o que eles nos dão e a dor profunda que sentimos quando um deles nos morre nos braços a olhar para nós.

Este foi o meu pequeno acto de amor para com a Cloé, algum tempo depois de conseguir pensar nela sem chorar.

5:31 da manhã  
Blogger Jorge P. Guedes said...

Outsider:

Obrigado pelas tuas palavras.
E obrigado por manteres contigo uma bichana deficiente. Muitos "amigos dos animais" provavelmente já a teriam dado para adopção.

P.S.- Estou triste por nunca mais te ter visto lá pelo Sino.

Um abraço e Bom Natal.

5:35 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Renda:

O que mais queria era não ter escrito isto, com tanta tristeza que nem podes imaginar!

Felizmente que hoje, passados muitos meses, já adotámos uma gatinha europeia tigreza, resgatada à rua e muito meiga nos seus 4 meses. É a Matilde.

Um bjnh.

5:41 da manhã  
Blogger vareira said...

Gosto imenso de gatos...e tantas vezes me identifico com eles.Mas não tenho coragem para ter um cá por casa...apesar de me pedirem todos os dias...
Gosto da escrita.

11:21 da tarde  

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