2006-12-16

Um conto simples de Natal

O cavalinho-de-pau

Era uma noite igual a tantas outras. A mesma roupa, o mesmo frio, uma rua quase deserta apagadas as luzes das montras reluzentes de enfeites e estímulos.
Recolhidas ao abrigo de suas casas, as poucas pessoas que ainda há pouco se viam preparavam-se porventura para mais um serão em frente da televisão ou a folhear um jornal.
A hora avançava para a madrugada. Só os vadios, gatos e homens, e os ratos desta cidade, iniciavam a ronda pelos mesmos cantos, os mesmos lixos…
Junto à estátua de um antigo cavaleiro vencedor de mil batalhas, um homem dobrado sobre o frio olhava fixamente o altivo símbolo da pátria. Do chão de cartão húmido, seu assento e leito, erguia a cabeça e media o tamanho enorme das patas do cavalo. No rosto, a iluminá-lo, um feixe de luz do candeeiro vizinho aclarava-lhe os vincos sujos que lhe caíam dos olhos até à boca. Não era velho, embora não soubesse exactamente a idade.
Um dia, há muito tempo, haviam-lhe contado que tinha um irmão mais velho que já andava na escola. Mas foi há tanto tempo que já mal se lembrava.
Dessa época, pouco mais recorda com clareza do que um cavalo-de-pau que um dia montou, às escondidas, quando os outros meninos foram dormir.
Era uma casa grande e os meninos tinham pais. A ela acedia por ter um quintal muito grande e perfumado que dava para um caminho. O cavalinho ficava sempre no jardim. Era lindo, de várias cores… e com ele aqueles meninos se divertiam, baloiçando, baloiçando, e gritando palavras para o cavalinho andar ou para parar. Observava-os por entre um grande limoeiro que se estendia até à rua. Não podia ser visto, nunca percebeu porquê, mas algo lhe dizia para se esconder, talvez o medo de que os donos do cavalo se assustassem com a sua presença, assim sujo e com roupas velhas como sempre andava.
Um dia, enquanto espreitava, viu aparecer alguém com um cavalinho novo, um pouco maior e com uns fios pendurados da cabeça e um rabo de cordas brancas. O outro, motivo de tantas cavalgadas e batalhas ficou sozinho a um canto. Como se fosse velho, muito velho e já não servisse para nada…Nessa noite, encheu-se de coragem e galgou para o jardim. Agarrou-se ao cavalo-de-pau e cavalgou até ao fim do mundo, até chegar a um lugar onde todos os meninos tinham o seu cavalo e brincavam em jardins de flores cheirosas, sem terem de se esconder. Foi nessa noite que ouviu cantar lindas canções que falavam de paz e amor. Naquele sítio tão belo, uma placa dizia : NATAL .

- Jorge P. G. - DEZ.2006 www.osinodaaldeia.blogspot.com

19 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Com que então, por aqui?
O Natal é sempre bonito... com cavalinhos de pau, ainda mais...

6:12 da tarde  
Blogger Jorge P. Guedes said...

Olha, fizeram-me esta maldade...convidaram-me e eu aceitei com todo o prazer porque me parece uma iniciativa muito interessante.
Mas...também por cá andas? que bom!

Um grande abraço!
Jorge P.G.

7:37 da tarde  
Blogger Kaotica said...

Que sejam ambos muito bem vindos aqui a este blog. Agradeço a visita da Rendadebilros e, caso tenha contos originais fica feito o convite a colocá-los aqui caso a ideia lhe agrade; Quanto ao Jorge p.g. só tenho a agradecer-lhe ter aceite o meu convite e expressar-lhe o quanto me agrada ver aqui postado o seu singelo conto de Natal.
Bom fim de semana para vocês!

7:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Agradeço a tua visita e as tuas palavras... que me encheram os olhos de lágrimas ( é do fogo do Natal...) e o coração de alegria. Quanto ao convite , estou a encarar a ideia seriamente, mais cedo do que pensas. É que este cavalinho de pau, o seu autor e o seu incentivo e o teu dão assim umas tantas ideias. Veremos. Como se faz para participar? Como se colocam aqui?
Bom domingo.

4:05 da tarde  
Blogger Kaotica said...

Rendadebilros

Deixei resposta lá no teu blog.
Abraço!

11:55 da tarde  
Blogger José Pires F. said...

Um belo Conto de Natal.

Bem que podias ter entrado no desafio. Para o próximo, que não será para breve, não escapas.

Para além de gostar da forma fluida como escreves, gostei do personagem e da forma como expuseste os seus desencontros com a vida e, adorei o final, que funcionou como um grito na procura da felicidade.

Grande abraço.

5:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica
Já li a tua mensagem. Fico à espera do convite.
Beijos

7:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica
Já li a tua mensagem. Fico à espera do convite.
Beijos

7:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica
Já li a tua mensagem. Fico à espera do convite.
Beijos

7:18 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica
Já li a tua mensagem. Fico à espera do convite.
Beijos

7:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica
Já li a tua mensagem. Fico à espera do convite.
Beijos

7:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica
Já li a tua mensagem. Fico à espera do convite.
Beijos

7:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica
Já li a tua mensagem. Fico à espera do convite.
Beijos

7:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica
Já li a tua mensagem. Fico à espera do convite.
Beijos

7:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Kaotica
Li a tua mensagem, simpática, como sempre.
Então convida-me.
Beijos

7:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

kaotica
Socorro!!! Consegues apagar essas mensagens repetidas? O meu computador endoidou!!!

7:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

kaotica
Socorro!!! Consegues apagar essas mensagens repetidas? O meu computador endoidou!!!

7:38 da tarde  
Blogger Jorge P. Guedes said...

Um grande abraço à P., à "renda" que gostosamente sugeri, e ao piresf,que soube interpretar bem o sentido da mensagem deste despretensioso contozinho.

Não sou um adepto ferrenho da prosa. Prefiro devaneios poéticos mas, já que aqui estou, vou vestir a camisola com vontade e tentar não vender chinelo por sapato.
Mas não esperem grandes contos...apenas honestidade e um pouco de escrita escorreita, se disso for capaz.

8:59 da tarde  
Blogger vareira said...

Fantástico conto.Adorei!
Mas o que mais gosto é de ver a rendinha a pôr mil vezes os mesmo comentário!!!Ela é linda, não é?

11:26 da tarde  

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